Pentecostes em Madri
Há exatos trinta dias, encerrava-se
em Madri a Jornada Mundial da Juventude, com uma missa presidida pelo Papa
Bento XVI no aeródromo de Cuatro Vientos, à qual acorreram mais de dois milhões
de jovens dos cinco continentes. Cerca de 193 países estavam lá representados.
Na busca de palavras – que muitas
vezes não são capazes de exprimir as experiências vividas ao longo da vida –
que pudessem resumir o que foi passar uma semana numa Madri que teve sua
população quase que duplicada, lembrei-me de At 2, 1-13: Pentecostes. Na altura
do versículo 7, após o Espírito Santo vir sobre os Apóstolos, os “judeus
piedosos vindos de todas as nações que há debaixo do céu” (At 2, 5), exclamaram
estupefatos: “Não são acaso galileus todos esses que nos falam? Como é, pois,
que os ouvimos falar, cada um de nós, no próprio idioma em que nascemos?”(At 2,
7). O Espírito Santo, em sua manifestação extraordinária como línguas de fogo –
a que os teólogos dão o bonito nome de teofania – permitiu que os Apóstolos
anunciassem a Boa Nova da Ressurreição em todos os idiomas possíveis, bem como
que fossem compreendidos por todos os seus interlocutores.
Pois bem, esta experiência de
Pentecostes foi vivida em plenitude nos dias da JMJ. E com certeza o grupo que
comigo estava – os amigos que o Espírito suscitou em minha vida; sim, porque o
Espírito também suscita relacionamentos duradouros – concordará. Como assim
Pentecostes? Inicialmente, fizemos nossa pré-jornada num povoado chamado
Brenes, a cerca de 20 Km de Sevilha, que por sua vez fica a sete horas de
Madri. Foram três dias de convivência com as famílias de lá. Poucos de nós
dominava o espanhol, contudo isso não prejudicou em nada nossa “comunicação” e
entrosamento, a ponto dos jovens breneros derramarem lágrimas quando da nossa
partida, dizendo que nós marcamos suas vidas para sempre. Como podem surgir
relacionamentos tão profundos com um oceano de distância e algumas diferenças
linguísticas? Coisas do Espírito... Inclusive com um grupo de libaneses que lá
estavam, fizemos amizades duradouras, que rendem horas de conversa nas redes
sociais. Cheguei ao ponto de fazer uma animação vocacional com uma jovem
libanesa – eu aqui em Viamão, e ela lá. Ah, a tecnologia...
De 16 a 21 de agosto, ficamos em
Madri. Nesses dias, encontramos com ingleses, poloneses, ucranianos,
austríacos, coreanos, indianos, franceses, indonésios... Estávamos todos lá
pela mesma causa – o encontro com o Jesus Cristo e com o sucessor de Pedro – e
isso nos unia; esse era o nosso idioma comum, que nos unia e criava entre nós
laços de fraternidade.
O ponto alto desse clima
“pentecostal” foi, sem dúvida, a grande vigília de Cuatro Vientos, iniciada em
20 de agosto, na qual o Santo Padre consagrou os jovens do mundo ao Sagrado
Coração de Jesus. Quando Sua Santidade chegou ao local da vigília, todos nós,
dois milhões de jovens ansiosos por ver o sucessor do pescador de Cafarnaum,
gritamos em coro, a um só espanhol: “Esta es la juventude del Papa...
Benedicto!!!!!!” Espanhóis, brasileiros, ingleses, franceses, congoleses, todos
gritaram numa única voz, tornando visível a ação do Espírito Santo que, dois
mil anos atrás, numa manhã em Jerusalém, fez todas as nações da terra receberem
o anúncio do Evangelho.
Pentecostes não é um fato do
passado, é um evento atual, que se faz presente em cada comunidade que se reúne
em torno do altar para celebrar a Eucaristia;
se fez presente em Madri, em Cuatro Vientos, e se fará presente no Rio
de Janeiro em 2013, quando novamente o Papa virá se encontrar com os jovens,
mostrando que a Igreja quer falar à juventude, a Igreja não quer ser uma fiscal
da moralidade, ela quer ser presença
junto a essa porção da sociedade que está construindo sua vida e seu futuro.
Jovens brasileiros, preparem-se para este grande Pentecostes em 2013.
Por Fabiano Glaeser, seminarista da Arquidiocese de Porto Alegre.