Quinta-feira, 5 de Novembro de 2010
Venerados Irmãos no
Episcopado,
«O Deus da esperança
vos encha de toda a alegria e paz em vossa vida de fé, para que abundeis na
esperança pelo poder do Espírito Santo» (Rm 15, 13) a fim de guiar o
vosso povo à plenitude da salvação em Cristo. De coração saúdo a todos e cada
um de vós, amados Pastores do Regional Sul 2 em Visita ad limina Apostolorum,
e agradeço as palavras que me dirigiu o vosso Presidente, Dom Moacyr,
fazendo-se intérprete dos sentimentos de comunhão que vos unem ao Sucessor de
Pedro. Por isso vos estou grato. Esta casa é também a vossa: sede bem-vindos!
Nela podeis experimentar a universalidade da Igreja de Cristo que se estende
até aos extremos confins da terra.
Por sua vez, cada
uma das vossas Igrejas particulares, queridos Bispos, é o generoso ponto de
chegada de uma missão universal, o aflorar «aqui e agora» da Igreja universal.
Neste caso, a justa relação entre «universal» e «particular» verifica-se não
quando o universal retrocede diante do particular, mas quando o particular se
abre ao universal e se deixa atrair e valorizar por ele. Na idéia divina, a
Igreja é uma só: o Corpo de Cristo, a Esposa do Cordeiro, a Jerusalém do Alto,
esta Cidade definitiva que seria o objetivo mais profundo da criação querida
como o lugar onde se realiza a vontade de Deus e a terra se torna céu.
Recordo-vos estes princípios, não porque os ignoreis, mas porque nos ajudam a
bem situar as pessoas consagradas na Igreja. Com efeito, nesta, a unidade e a
pluralidade não só não se opõem mas enriquecem-se reciprocamente na medida em
que procuram a edificação do único Corpo de Cristo, a Igreja, por meio do «amor
que une a todos na perfeição» (Cl 3, 14).
Porção eleita do
Povo de Deus, os consagrados e consagradas lembram hoje «uma planta com muitos
ramos, que assenta as suas raízes no Evangelho e produz abundantes frutos em
cada estação da Igreja» (Exort. ap. Vita consecrata, 5). Sendo a
caridade o primeiro fruto do Espírito (cf. Gl 5, 22) e o maior de todos
os carismas (cf. 1 Cor 12, 31), a comunidade religiosa enriquece a
Igreja de que é parte viva, antes de tudo com o seu amor: ama a sua Igreja
particular, enriquece-a com seus carismas e abre-a a uma dimensão mais
universal. As delicadas relações entre as exigências pastorais da Igreja particular
e a especificidade carismática da comunidade religiosa foram tratadas pelo
documento Mutuae relationes, do qual está longe
tanto a idéia de isolamento e de independência da comunidade religiosa em
relação à Igreja particular, como a da sua prática absorção no âmbito da Igreja
particular. «Como a comunidade religiosa não pode agir independentemente ou
como alternativa ou, menos ainda, contra as diretrizes e a pastoral da Igreja
particular, assim a Igreja particular não pode dispor a seu bel-prazer, segundo
as suas necessidades, da comunidade religiosa ou de alguns dos seus membros»
(Doc. Vida fraterna em comunidade, 60).
Perante a diminuição
dos membros em muitos Institutos e o seu envelhecimento, evidente em algumas
partes do mundo, muitos se interrogam se a vida consagrada seja ainda hoje uma
proposta capaz de atrair os jovens e as jovens. Bem sabemos, queridos Bispos,
que as várias Famílias religiosas desde a vida monástica até às congregações
religiosas e sociedades de vida apostólica, desde os institutos seculares até
às novas formas de consagração tiveram a sua origem na história, mas a vida
consagrada como tal teve origem com o próprio Senhor que escolheu para Si esta
forma de vida virgem, pobre e obediente. Por isso a vida consagrada nunca
poderá faltar nem morrer na Igreja: foi querida pelo próprio Jesus como parcela
irremovível da sua Igreja. Daqui o apelo ao compromisso geral na pastoral
vocacional: se a vida consagrada é um bem de toda a Igreja, algo que interessa
a todos, também a pastoral que visa promover as vocações à vida consagrada deve
ser um empenho sentido por todos: Bispos, sacerdotes, consagrados e leigos.
Entretanto, como
afirma o decreto conciliar Perfectae caritatis, «a conveniente
renovação dos Institutos depende sobretudo da formação dos membros» (n. 18).
Trata-se de uma afirmação fundamental para toda a forma de vida consagrada. A
capacidade formativa de um Instituto, quer na sua fase inicial quer nas fases
sucessivas, está no centro de todo o processo de renovação. «De fato, se a vida
consagrada é, em si mesma, uma progressiva assimilação dos sentimentos de
Cristo, resulta evidente que um tal caminho terá de durar a vida inteira para
permear toda a pessoa (...) e torná-la semelhante ao Filho que Se entrega ao Pai
pela humanidade. Assim entendida, a formação já não é apenas um tempo
pedagógico de preparação para os votos, mas representa um modo teológico de
pensar a própria vida consagrada, que em si mesma é uma formação jamais
terminada, uma participação na ação do Pai que, através do Espírito plasma no
coração os sentimentos do Filho» (Instr. Partir de Cristo, 15).
Pelo modo que
considerardes mais oportuno, venerados Irmãos, fazei chegar às vossas
comunidades de consagrados e consagradas, independentemente do serviço
claustral ou apostólico que estão desempenhando, a viva gratidão do Papa que de
todas e todos se recorda nas suas orações, lembrando em especial os idosos e
doentes, quantos atravessam momentos de crise e de solidão, quem sofre e se
sente confuso e também os jovens e as jovens que hoje batem à porta das suas
Casas e pedem para se entregar a Jesus Cristo na radicalidade do Evangelho.
Agora, invocando o celeste patrocínio de Maria, modelo perfeito de consagração
a Cristo, confirmo-vos mais uma vez a minha estima fraterna e concedo-vos,
extensiva a todos os fiéis confiados aos vossos cuidados pastorais, uma
propiciadora Bênção Apostólica.
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